Número de jogadores estrangeiros cresce 31% em 2012
seg, 06/02/12
por Emerson Gonçalves |
categoria Economia e Finanças, Futebol das Américas, Futebol do Brasil, Globalização, Mercado
De dezembro de 2011 para janeiro de 2012 o número de jogadores estrangeiros registrados pelos 22 maiores clubes brasileiros passou de 29 para 38, um significativo aumento de 31% em apenas um mês. Desses clubes, somente sete, sendo quatro do Nordeste, não têm pelo menos um estrangeior em seus elencos. E outros sete já atingiram ou estouraram a cota de inscrição de três jogadores, o que já está provocando alguma movimentação no sentido de alterar a lei.
Esses números foram levantados pela Pluri Consultoria e quantificam um fenômeno que já vínhamos observando há algum tempo.
A presença de jogadores de outros países da América do Sul em nosso futebol não é novidade e muitos conquistaram o status de grandes ídolos, como Sastre (ainda nos anos 40), Pedro Rocha, Dario Pereira e Pablo Forlan, no São Paulo, Rincón, Tevez e Gamarra no Corinthians, Romerito no Fluminense, Don Elias Figueroa no Internacional, De León no Grêmio, Artime no Palmeiras e outros mais. Como frisa o trabalho de Fernando Pinto Ferreira, da Pluri, a diferença é que agora o Brasil é um destino natural para jogadores dos países vizinhos e não tão vizinhos assim e, ao mesmo tempo, esses jogadores representam uma opção de mercado extremamente interessante para os clubes brasileiros.
Hoje, as diferenças de faturamento entre os clubes do Brasil e dos demais países da América do Sul é abissal, o que se reflete nos salários. Essa situação é claro reflexo das grandes diferenças econômicas dentro do continente. Apenas para se ter uma ideia, e usando os números referentes a 2010, o PIB da Argentina, o segundo maior da América do Sul, equivaleu a pouco menos da metade do PIB do Estado de São Paulo: 368 bilhões de dólares contra cerca de 780 bilhões de dólares. No mesmo ano, o PIB brasileiro foi de 2,1 trilhões de dólares. São números frios, mas que expressam diferenças brutais de realidade econômica.
Vamos, agora, a uma listagem de pontos importantes preparada pela Pluri:
– O PIB brasileiro sozinho equivale a 45% de todo o PIB da América do Sul;
– O Real é uma moeda valorizada em relação às vizinhas, o que torna os jogadores estrangeiros mais baratos;
– Os clubes brasileiros pagam hoje salários bem melhores;
– A Crise do Crash de 2008 levou a Europa a diminuir suas incursões por essa Terra Brasilis e seus vizinhos; com o grande mercado europeu diminuindo suas compras, os jogadores de outros países passam a encarar o Brasil como destino natural, o que já destaquei no início;
– O Campeonato Brasileiro tem maior nível, hoje, e é uma excelente vitrine para os atletas;
– Ao atuar no Brasil, os jogadores permanecem próximos de suas famílias;
– Dois pontos importantes: nossos clubes aumentaram em muito o interesse pela Copa Santander Libertadores e a presença de jogadores já acostumados com sua disputa é bastante positiva; ao mesmo tempo, essa presença estrangeira é importante para os clubes que desejam melhorar sua imagem, aumentar o nível de conhecimento a a seu respeito no continente.
Mesmo com todos esses pontos positivos e o incremente de 31%, os jogadores estrangeiros ainda são menos de 5% dos elencos dos times da Primeira Divisão brasileira. Esse percentual faz do Brasil o país mais fechado a jogadores estrangeiros entre os 60 mais importantes no mundo da bola. Tudo indica que esses números absolutos e percentuais aumentarão significativamente. Inclusive, dirigentes de clubes já têm se pronunciado a respeito.
Eu, particularmente, sempre acreditei que ao mesmo tempo que nossos clubes garimpam bons jogadores pela América do Sul, deveriam fazer o mesmo em terras d´África. É enorme o número de excelentes atletas e até craques dos mais diferentes países africanos que jogam nos times europeus. Atualmente, há um único jogador africano no futebol brasileiro. Dependendo da evolução de nossos clubes e do nosso futebol, atletas asiáticos também poderão ter interesse em disputar o Brasileiro e a Libertadores. Também nesse caso há um único atleta dessa origem registrado entre nós.
Esse aspecto da globalização não está com sua direção invertida, mas sim ampliada. Novos destinos se abrem para os profissionais do futebol.
Fonte: http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2012/02/06/numero-de-jogadores-estrangeiros-cresce-31-em-2012/