| Pluri Consultoria


FacebookTwitter

O sempre agitado noticiário de transferências de jogadores no início da temporada está sendo afetado, este ano, pela notícia de que a Rede Globo de televisão está segurando o repasse, aos clubes, de  recursos como adiantamento pelo contrato de transmissão do campeonato Brasileiro firmado em 2011. A notícia gerou descontentamento nos clubes, pois limita a condição dos mesmos de se reforçar tendo como base a antecipação de receitas futuras. 
Entendo a dificuldade dos clubes e seus dirigentes, sob pressão para montar equipes competitivas e trazer reforços de peso, de forma a responder aos torcedores que nesta época estão sempre de olho no verde da grama do vizinho. Porém, em termos de gestão do futebol e da saúde financeira dos clubes, essa é uma BOA NOTÍCIA. 
Vivemos uma época de certa euforia por conta do atual estágio do futebol brasileiro, em função do aumento de receita verificado nos clubes nos últimos anos, em parte devido à própria renegociação dos contratos de televisão em bases mais favoráveis. Este cenário gerou a falsa sensação de que está sobrando dinheiro, sentimento acentuado por lances pontuais mais ousados, como a volta de Ronaldo ao Corinthians, e  a permanência de Neymar no Santos. 
De fato os clubes brasileiros estão vendo suas receitas aumentar, o que é ótimo, mas na maioria deles ainda existem muitos acertos de conta a serem feitos com o passado. Basicamente, existem duas formas de se utilizar esse aumento de receita. A primeira é combinar abatimento de dívidas (em especial as mais onerosas), com aumento dos investimentos em atividades que gerem receitas futuras e fortaleçam a equipe (produto) e a marca. Esta é a atitude correta, mas nem sempre com grandes resultados à curto prazo, o que explica a sua baixa popularidade entre os clubes brasileiros. A segunda é antecipar receita futura, utilizando-a para gastos  correntes (salários muito acima do necessário, por exemplo), pensando no resultado de curto prazo e rezando para que tudo de certo. É a fórmula escolhida por boa parte dos clubes.  Portanto, ao limitar antecipações de receitas futuras, a decisão da Globo obriga os clubes a gerir melhor seus recursos. Apesar do desconforto no curto prazo, sairão ganhando os clubes que forem mais prudentes nesta fase de contratação, trabalhando com métodos e critérios objetivos de avaliação de jogadores, principalmente em um momento em que há claros indícios de uma bolha salarial no mercado da bola. Como exemplo, na Pluri desenvolvemos o PLURI SOCCERMETRIC, uma ferramenta PLURI que vem sendo usada com sucesso na avaliação objetiva do valor dos jogadores, permitindo otimizar o seu ciclo de vida  no clube, desde a contratação até sua saída. Isso reduz o risco no investimento em jogadores. 
Além da questão imediata, os clubes brasileiros precisam avançar urgentemente no sentido de melhorar seus níveis de Governança e Gestão. Não há uma blindagem que proteja gestores profissionais qualificados da interminável turbulência política dos clubes. Este ambiente permanece como um grande empecilho à continuidade do trabalho profissional de longo prazo, já que é frequente a ingerência de diretores, conselheiros e demais pessoas próximas aos grupos de comando. Vale lembrar que boa parte desses dirigentes não são remunerados, e fazem em seus clubes o mesmo tipo de política praticado em Brasília, com conchavos, troca de favores e outras práticas que emperram o desenvolvimento dos clubes. Mas não para por aí. 
As práticas de boa Governança e Gestão são inexistentes, tímidas ou inadequadas, e faltam transparência, regras claras, políticas e controles. Além disso, também existem problemas com as Estruturas organizacionais, geralmente arcaicas e com profissionais pouco qualificados. Atualmente, na PLURI estamos bastante envolvidos com a formação do  CBGE – Centro Brasileiro de Governança Esportiva, cujo objetivo é criar um capítulo de boas práticas que sirvam de referência para os clubes, tal como existe de forma bem sucedida na Alemanha. 
Em resumo, gostamos muito de enaltecer times como o Barcelona e seu “futebol mágico”, mas pouco é feito para realmente  mudar o patamar de gestão dos clubes, que ao final, é o que determina o resultado em campo. 
Temos repetido frequentemente em nossos estudos, que aqueles que aproveitarem o momento atual, de melhoria de receitas, para sanear as finanças e preparar o clube para um salto, estarão se candidatando a potências mundiais do futebol no futuro.A opção a isso é continuarmos a ver um crescente número de crianças nas grandes cidades brasileiras com a camisa do Barcelona, Real Madri, Manchester United, etc.
Clubes grandes e médios do passado são pequenos hoje, e isso continuará a se repetir no futuro. O Futebol não tem compromisso com o passado, apenas com o presente, com o que é feito hoje.Finalizo parafraseando Ferrán Soriano, ex-vice-presidente do Barcelona e um dos responsáveis pela implantação do modelo de gestão, que resultou no sucesso dentro de campo do clube catalão: “A bola não entra por acaso”.
Fernando Ferreira – fernando@pluriconsultoria.com.br – twitter: @pluriconsult