Ingressos de futebol no Brasil aumentaram 300% em 10 anos | Pluri Consultoria


Ingressos de futebol no Brasil aumentaram 300% em 10 anos
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Ingressos de futebol no Brasil aumentaram 300% em 10 anos

qui, 11/04/13
por Emerson Gonçalves |
categoria Calendário/OrganizaçãoEconomia e Finanças

 
Como parte de um estudo a respeito da crise de público nos nossos estádios, a Pluri Consultoria divulgou a parte referente ao preço dos ingressos que o torcedor brasileiro paga para ver seu time do coração jogar. O trabalho considerou apenas os ingressos cobrados pelos vinte clubes que disputam a Série A, para adultos, não considerando a meia entrada ou promoções.
Vou transcrever a seguir as considerações da Pluri, tal como recebi. Na sequência teremos duas tabelas extremamente interessantes e depois o fechamento desse post com alguns comentários meus.
 
Considerações da Pluri
– O preço dos ingressos mais baratos subiu 300% nos últimos 10 anos, período em que a inflação (medida pelo IPCA-IBGE) foi de 73%, a Cesta Básica subiu 84% e o Salário mínimo aumentou 183%;
– Quando convertemos o preço dos ingressos para US$, a alta foi ainda maior, de 506% no período, e em Euros atingiu 594%. Isso ocorreu pela valorização do Real frente a essas moedas no período;
– Apesar de entendermos que o preço dos ingressos não é o único responsável pelo esvaziamento dos estádios brasileiros, certamente é um dos mais relevantes, como mostramos em relatório recente (Os 17 motivos para os torcedores não irem aos estádios);
– Não cabe aqui a discussão sobre a futura política de preços a ser praticada nos novos estádios brasileiros ou uma suposta tentativa de elitização em andamento, mas apenas uma constatação de que essa alta ocorreu em um ambiente de jogos de baixa qualidade, disputados em estádios em situação precária. Ou seja, oferece-se um produto de qualidade cada vez pior, a preços crescentes, em um cenário em que as opções de entretenimento para o torcedor são cada vez maiores;
– Alguns argumentos tentam justificar essa estranha situação. Um deles é a de que os preços baixos “desvalorizam o produto”. Mas tem algo pior para o futebol do que um jogo ruim disputado em estádio vazio?;
– Outro argumento utilizado com freqüência é o de que são necessários ingressos mais caros em função do aumento do custo do futebol no período. Ótimo, só esqueceram de perguntar ao torcedor se ele concorda em pagar essa conta, e está claro que ele não concorda. Aliás, lembrando sempre que esse torcedor é um cliente;
– Tem também o argumento de que o preço tem que ser alto para estimular o torcedor a se tornar sócio do clube. Isso funciona apenas para uma parcela de torcedores, e costuma estar diretamente atrelado ao momento do time. Ou seja, quando a fase é boa, o estádio enche, quando é ruim, volta a ficar vazio. Ingressos proibitivos não permitem que o torcedor crie vínculos com o time e desenvolva, com o tempo o desejo de se tornar sócio não apenas pela vantagem financeira, mas também pela experiência de ir ao jogo. Com isso ele se mantém afastado, assistindo de casa, afinal é mais barato e confortável. E vai se afastando cada vez mais do seu time;
– Além da vantagem do preço, é a perspectiva de não conseguir lugar disponível nos estádios que leva o torcedor a se associar ao clube. A Europa tem exemplos de sobra neste sentido;
– De fato, alguns clubes tem sido bem sucedidos em aumentar o preço dos ingressos e mesmo assim ter alta demanda, é o caso de Atlético-MG e Corinthians. São exceções que confirmam a regra. A maioria esmagadora trabalha com a rotina de estádios quase desertos;
– Ao praticar pecos tão altos, o torcedor toma uma decisão racional de consumo, escolhendo ir apenas aos jogos mais importantes. Isso explica a grande quantidade de partidas com público muito baixo, e a presença de público maior em um ou dois jogos, geralmente as finais, já que nem os clássicos conseguem mais mobilizar os torcedores;
– Já que é possível provar que o torcedor “escolhe” os jogos que ele vai assistir no estádio (há dados para isso), porque não se pratica uma política de preços agressivamente flexível no Brasil, ajustando os preços à qualidade e importância dos jogos? Algo semelhante ao que se faz com o preço das passagens aéreas? Ou, porque não se faz como é comum na Europa, com classes de jogos com preços diferentes? Exemplo: jogos comuns de campeonatos estaduais deveriam ter “grande” desconto;
– Encher o estádio deveria ser prioridade total do clube, mesmo que para isso seja necessário praticar preços de ingressos mais baixos inicialmente. Sabemos que há uma correlação direta entre interesse de mídia e de patrocinadores, com jogos em estádios cheios (e o inverso também é verdadeiro, atenção!). Portanto, “casa cheia” potencializa outras receitas dos clubes. E o aumento da demanda leva à escassez, que aí sim, permite o aumento de preços;
– Apesar do crescimento econômico verificado nesta última década, nunca é demais lembrar que o Brasil continua a ser um país de salário mínimo de R$ 678, e renda per capita equivalente a cerca de 1/3 da europeia;
– Existe um preço de equilíbrio que ajusta oferta e demanda de um produto. No Brasil o preço dos ingressos não é decidido tendo como base nenhum tipo de estudo ou análise mais profunda (‘pricing”), e sim por uma simples arbitragem feita por dirigentes de federações e clubes. É certo, porém, que estamos fora desse preço de equilíbrio, não fosse por isso os estádios não eram tão vazios;
– O Futebol Brasileiro revogou a Lei da oferta e da procura. Por aqui, quanto mais vazio os estádios ficam, mais o preço dos ingressos sobe.

Comentários do OCE
A primeira tabela é extremamente rica em informações as mais diversas e a própria Pluri, como vimos acima, teceu considerações a respeito.
Particularmente, considero como a mais interessante e representativa a comparação com o preço do sanduíche Big Mac. Por que? Porque o Big Mac é um produto de sucesso e é consumido por boa parte da população, tendo consumidores em todas as classes sócio-econômicas. Ele é ofertado num mercado que apresenta muitas outras opções e para manter sua posição de mercado e volume de vendas, ao mesmo tempo gerando lucros para as empresas ligadas à sua produção, distribuição e venda, não pode custar muito caro – perderia consumidores – e nem muito barato – não pagaria os custos todos envolvidos em sua produção e comercialização.
O futebol como produto de consumo difere muito do Big Mac, mas ao mesmo tempo tem muitos pontos em comum. Aqui, entretanto, vou me ater somente à questão do preço. Podemos considerar que a evolução de preço do sanduíche foi razoável e condizente com as transformações do período, na economia e nos hábitos das pessoas. Considero que seria igualmente muito razoável o preço do ingresso para um jogo acompanhar a mesma evolução. Dessa forma, ao invés do preço médio do ingresso ser de R$ 38,00 nesse ano de 2013, ele seria de apenas R$ 21,66 – nada menos que 43% menor que o que é cobrado hoje.
É interessante observar que o crescimento da renda per capita do brasileiro nesse período foi de 10,3% ao ano e o aumento do Big Mac foi de 8,6% em média por ano. Já o futebol deu-se ao luxo (deu-se mesmo ao luxo?) de aumentar os ingressos em 14,9% ao ano, em média. Enquanto o preço do Big Mac cresceu 16,5% abaixo do crescimento da renda per capita, o futebol para o torcedor que vai ao estádio (só o ingresso) cresceu 44,7% acima do aumento médio da renda per capita.
Conhecendo os cuidados, estudos e pesquisas que a McDonalds realiza todo ano para manter seus produtos competitivos e lucrativos ao mesmo tempo, fica mais do que claro que os preços dos ingressos no futebol são tratados simplesmente na base do achômetro. Esse ponto já está assinalado nas considerações da Pluri, mas ao invés do termo correto – pricing – tenho para mim que o termo achômetro é mais adequado à mentalidade dos dirigentes de nosso principal esporte e lazer.
Na outra tabela temos os valores dos ingressos e sua evolução em euros e dólares, assim como a evolução cambial nesse período. Esses valores ficarão mais claro e farão mais sentido com o próximo posto, que vai mostrar a comparação com os ingressos na Europa.
Resumindo: os preços dos ingressos de nosso futebol estão fora da nossa realidade econômica.
Pensando em termos médios, mas há espaço para esses valores e até para mais altos, mas aí já é outra história.
 

Fonte: http://globoesporte.globo.com/platb/olharcronicoesportivo/2013/04/11/ingressos-de-futebol-no-brasil-aumentaram-300-em-10-anos/